segunda-feira, 4 de maio de 2009

CLASSES DE PALAVRAS


Olá, senhores!Hoje, vamos debater a respeito das "Classes de Palavras". A Gramática Tradicional (GT) é um livro, que, a cada página, conteúdo apresentado, surpreende por oferecer teorias que não resistem à menor análise mais detalhada. É um livro, cujos conceitos são obsoletos, arcaicos e refutáveis.

Para isso, temos que compreender a teoria e, em seguida, objetá-la. Segundo os incríveis professores da UFC Paulo Mosâneo e Claudete Lima.


"Qualquer tarefa de classificação que se venha a fazer, na vida ou na Linguística, requer a adoção de critérios. Assim, são três os critérios de classificação vocabular: o mórfico ou formal, sintático ou funcional e o semântico.


O critério MÓRFICO ou formal se baseia na flexão e derivação por que uma palavra pode caracterizar-se. Sendo assim, uma classificação que divide os vocábulos em variáveis e invariáveis, por exemplo, está usando um critério formal, porque se fundamenta na possibilidade ou não de flexão. Esse critério estuda a palavra isoladamente.

O critério SINTÁTICO ou funcional se atém à função da palavra em relação a outras palavras num contexto. É o critério sintático que se emprega quando se diz que "o adjetivo concorda em gênero e número com o substantivo", porque se está falando da relação do adjetivo com o substantivo, está-se observando o comportamento do adjetivo referente a outro vocábulo.

O critério SEMÂNTICO se baseia no significado extralinguístico do vocábulo. "Substantivo é a palavra que nomeia os seres", nesse caso, emprega-se o critério semântico".
Isto é, na teoria e na prática, deveriam ser utilizados esses três critérios para se fazer uma análise cabal dos vocábulos.


Na GT, porém, a teoria baseia-se, em geral, no critério semântico, o que resulta fatalmente em muitos equívocos.

É fácil encontrar "Adjetivo é a palavra que exprime qualidade" em muitos compêndios de português, como também há muitos professores (lamentavelmente) que ensinam (insistem!) que "Adjetivo é sinônimo de qualidade"! Ora, então teríamos que analisar as palavras BONDADE, BRANCURA E PUREZA como verdadeiros adjetivos, o que, de fato, não o são.
Será? Bem, BONDADE é qualidade de bom; BRANCURA, qualidade de branco e PUREZA, qualidade de puro. Então, como não seriam ADJETIVOS?!

Na verdade, são SUBSTANTIVOS ABSTRATOS, simplesmente.


-> ADJETIVO é a palavra variável que modifica fundamentalmente o substantivo, com qual concorda em gênero e número, caracterizando-o, particularizando, restrigindo-lhe a significação.


Aqui, temos uma análise pelos três critérios. Mórfica: "variável"; Sintática: "concorda". Semântica: "modifica...", "caracterizando-o". Uma simples teoria: ADJETIVO É A PALAVRA variável QUE CARACTERIZA O SUBSTANTIVO.


Quando escutamos "palavra que indica qualidade" é um tanto estranho, porque, quando pensamos em "qualidade", pensamos em coisas de natureza boa. Por isso, em muitos livros encontramos exemplos "infantis" como "casa AMARELA", "garota INTELIGENTE", "camisa BONITA" etc. Se deparamos com "garota TERRÍVEL", "casa AMALDIÇOADA", "camisa FEDIDA", dificilmente consideraríamos essas palavras em maiúsculo adjetivos, pois é embaraçoso admiti-las sendo "qualidades". Para isso, fato é que já existem gramáticas que trazem "É A PALAVRA QUE EXPRIME QUALIDADE (E DEFEITO)". Afinal, é ou não é para rir?! E quanto a adjetivos como "dia ATUAL", "conforto PSÍQUICO", "empréstimo BANCÁRIO", são adjetivos porque indicam "qualidades"?!


Analisar somente pelo critério Semântico é arriscado. E, infelizmente, as GTs valorizam muito esse aspecto. Vejamos:


-> "SUBSTANTIVO é a palavra que nomeia os seres" (Cegalla, 1980).


Houve uma questão de concurso na qual se pedia que o candidato apontasse a correta alternativa quanto ao exato número de substantivos no enunciado: "Ficou num canto, sem retratos e sem aplausos, urso burro sem serventia... O tempo passou. Veio a crise econômica, e o circo foi à falência". Um estudante preparado acertaria a questão a partir da teoria fornecida? Nesse caso, teria que contar quantos seres existem aí!


-> "NUMERAL é a palavra que exprime número, número de ordem, múltiplo ou fração"
DÚZIA, CENTO, MILHAR, METADE seriam NUMERAIS, portanto? Não, em absoluto. São SUBSTANTIVOS. Como provar? Simples. O SUBSTANTIVO é núcleo de um grupo nominal, no qual haverá palavras que concordarão com ele.


Exemplo:


Ex1: Duas DÚZIAS..., O CENTO do salgado..., Acertei nO MILHAR..., Essa METADE menor...


-> "VERBO é a palavra que exprime AÇÃO".


Muitos professores, infelizmente, ainda ensinam valendo-se dessa teoria. Ora, existem palavras que exprimem AÇÃO, porém não são, em especial, verbos.


Palavras como DESEMBARQUE, COMBATE e ABRAÇO indicam ações, e, no entanto, não se enquadram na classe dos verbos. São, na verdade, SUBSTANTIVOS. E nem todo verbo indica obrigatoriamente AÇÃO. O verbo VER, por exemplo, não exprime uma ação, e sim um PROCESSO. Verbos sensitivos (referentes aos sentidos) caracterizam-se por esse aspecto.


-> "PRONOME é a palavra que substitui o nome (substantivo) ou refere-se a ele". Isso requer análise mais aprofundada.


Colocando em prática:


CORTEI AQUELAS TRÊS MAÇÃS PEQUENAS E COLOQUEI-AS SOBRE A MESA.


As é pronome, mas não substitui unicamente o substantivo MAÇÃS, e sim o grupo nominal

AQUELAS TRÊS MAÇÃS PEQUENAS. São raras as vezes em que um pronome substitui realmente um nome.


Existem PRONOMES que NÃO SUBSTITUEM nenhum nome e, mesmo assim, são considerados como tal, e palavras que não são pronomes, mas que têm essa propriedade.


EU VISITEI FORTALEZA.


Todos sabem que eu é pronome. Mas que nome substitui? Só vamos considerá-lo PRONOME, porque se refere a uma pessoa do discurso. Só.


ANO PASSADO, VISITEI FORTALEZA. É MUITO BOM.


É indiscutível que LÁ substitui o nome FORTALEZA, porém a GT chama ADVÉRBIO (de lugar).
A classe PRONOME talvez seja a que mais necessite de uma revisão. Não vamos detalhar, porque, assim, alongaríamos demais o assunto. Fiquemos somente nesses simples exemplos do problema.


-> "ARTIGO é a palavra que se antepõe aos substantivos que designam seres determinados (o, a, os, as) ou indeterminados (um, uma, uns, umas)".


Simplesmente, muitos dizem que O, A, OS, AS são os ARTIGOS DEFINIDOS (porque definem o substantivo) e UM, UMA, UNS, UMAS são os INDEFINIDOS (porque indefinem o substantivo).
Qual seria, portanto, a diferença entre essas sentenças


O garoto - um garoto? A resposta é rápida: no primeiro, o sentido do substantivo é definido, particularizado; já o segundo, não.


Para a GT, ARTIGO é a palavra que serve para DEFINIR ou INDEFINIR o sentido do substantivo.


E quanto a


ESTE garoto - ALGUM garoto?


A idéia de ESTE é de definição, particularização. Já ALGUM é de indefinição. Seriam, então, artigos? Não. São pronomes. Nesse caso, não seria melhor colocar essa "classe" dos artigos dentro da dos pronomes, formando, assim, uma subclasse?


-> "ADVÉRBIO é a palavra invariável que indica circunstância".


Essa talvez seja a teoria mais insustentável de todas. Após algumas páginas sobre Advérbio, é inevitável não verificar um tópico no qual diz FLEXÃO DO ADVÉRBIO (grau diminutivo e aumentativo). Ora, se tal palavra caracteriza-se por ser INVARIÁVEL, por que FLEXÃO?! Mais: a GT considera GRAU sendo um processo de FLEXÃO (AINDA NESTE BLOG VAMOS DISCUTIR SE GRAU É OU NÃO UM PROCESSO FLEXIONAL).


Em algumas GTs, existe apenas o tópico GRAU, como camuflagem da incoerência, porque o tópico "FLEXÃO DO ADVÉRBIO" é muito atrevido.


A GT traz o Advérbio como a palavra que pode se ligar a Verbo, Adjetivo e Advérbio. Porém, há, na nossa língua, casos muito comuns em que o Advérbio pode se ligar a outras palavras ou a nenhuma palavra.


FRASE1: SÓ ele sabe a verdade. (o adv. se liga ao pronome ele)
FRASE2: INFELIZMENTE, ele não resistiu aos ferimentos. (o adv. se refere à opinião do falante).


Quanto à classificação, vamos fazer o que fizemos com o PRONOME: sem mais detalhes, pois o assunto seria demais extenso.


- > "INTERJEIÇÃO é a palavra que exprime emoção". EXEMPLO: Ah!, Oi!, Ufa etc.

Primeiro: interjeição é palavra? Na verdade, seria mais adequado analisarmos como uma frase nominal.


Não haverá comentários sobre PREPOSIÇÃO e CONJUNÇÃO, visto que não são alvos tão evidentes de análise.


Aqui, escolhemos apenas as classes que mais trazem problemas quanto à teoria gramatical.
Fica claro, portanto, que, para o estudo das classes de palavras, não podemos empregar somente o critério semântico. Temos que analisar as palavras no ambiente em que estão inseridas. Sempre. A análise não pode ser, então, somente MÓRFICA, e sim MORFO-SINTÁTICA.
Vejamos:


Não sabia que você era um doutor filósofo.


Analisando separadamente as palavras em negrito, concluiremos que são dois substantivos. O dicionário não negará: doutor é substantivo, assim como filósofo. Porém, no caso em questão, teremos: doutor = substantivo e filósofo = adjetivo. Porque "filósofo" é a palavra que determina "doutor", esta, portanto, determinada; "filósofo" retringe a significação de "doutor".


Agora, se tivéssemos:


Não sabia que você era um filósofo doutor. Evidentemente, teríamos o contrário.
Mais exemplos:


Frase1: GAROTA, FALA ALTO!
Frase2: ELA SEMPRE GOSTOU DE HOMEM ALTO.


Só sabemos quem é ADVÉRBIO e quem é ADJETIVO não porque um indica "circunstância" ou "qualidade", e sim pela relação de combinação entre as palavras.


Na frase1, temos um ADVÉRBIO, porque se refere ao VERBO, modificando-lhe o sentido.
Já na frase2, temos um ADJETIVO, porque concorda com o SUBSTANTIVO, restrigindo-lhe a significação, particularizando, caracterizando.
Portanto, devemos analisar as palavras a partir do ambiente em que estão. Assim, perceberemos seu comportamento e, consequentemente, sua correta classificação.


Por enquanto, só.


Abraços!
Hugo Magalhães.


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